sábado, 19 de janeiro de 2013

ENSAIO FILOSÓFICO SOBRE O SAMBA E AS ARTES



ENSAIO
 (DONA IVONE LARA E A BELEZA ETERNA DAS ARTES)

Por: Claudio Fernando Ramos – Natal-RN, 19/01/2013. Cacau “:¬)

Toda aste é criação humana, nada tendo a ver com as classes. Cacau ":¬)
O tratamento de “Dona” que antecede o nome de “Ivone Lara” não é uma designação autoimposta, produto de um arroubo de superioridade da artista. Incorre em erro quem pensa que se trata de um nome artístico, geralmente, forjado a priori de qualquer consagração de peso. Ao contrário, ele é a síntese do respeito, a posteriore,  manifesto pela sensibilidade do radialista Adelzon Alves. Porém, antes de tudo, é uma forma simples, mas, extremamente profunda de se demonstrar consideração no sentido mais lato que o termo permite (palavra difícil no mundo do samba). Consideração pelo talento que, em dado momento, pode até precisar de ajuda para ser reconhecido e consagrado; mas que, jamais precisou, nem jamais precisará de ajuda alguma para ser manifesto. Esse talento é legitimado não, necessariamente, pela consagração que pode ou não ocorrer, mas, principalmente, pela longevidade da criação (quando se ouve Ivone, pouco importa há quanto tempo a música foi composta). 

O samba está para Dona Ivone na mesma proporção em Dona Ivone está para o samba. Cacau ":¬)
As gerações se sucedem, e juntamente com isso, todas as coisas que participam da ideia do belo tendem a corromper-se (alteração/movimento/mudanças). Porém, essas são características do que é contingente (passageiro) e só os que insistem em não utilizar a razão (esse fantástico instrumento), tornam-se presa fácil dos viciados e viciantes sistemas. Essas vítimas resignadas da efemeridade, só cantam o frugal. Não o fazem pelo amor ao que é simples, como o termo parece sugerir, mas pela incapacidade de criação (o mal do século). E o que é pior, um espírito de penúria (Pênia, personificação da pobreza na mitologia), uma fome voraz pelo mínimo, pelo fácil e prático (tudo isso disfarçado de humildade), arvora-se como justificativa para tamanha letargia. Ao longo das décadas, vem sendo engendrada uma perigosa e estruturada imbecilidade midiática (a ação da grande mídia na sociedade), semelhante a um vírus contagiante, os seus criadores empenham-se em arrebanhar o máximo de pessoas possível. Os produtos oferecidos precisam ser rápidos e massificamente consumidos, o prazer do consumo dura menos que meia hora após ter saído da loja (é o crack nosso de cada dia): os que se negam a participar tornam-se ultrapassados; os que aceitam, mas o fazem com parcimônia, são chamados de amarrados, abestalhados, nerds. 

A consequência direta desse estado de coisa, em nada fica a dever aos outros sistemas sociais à que estamos tão acostumados a ver e ouvir: na Amazônia (para o lucro de poucos, florestas devastadas para todos), nos grades latifúndios (em nome de colheitas maiores: terras estéreis, lençóis contaminados e rios “mortos”, pelo intensivo uso dos agrotóxicos), nas grandes cidades (juventude consumista, viciada e com o futuro educacional comprometido, em busca de uma liberdade que não têm como administrar)... Como na história de João e Maria, estamos sendo cevados para o abate (“Admirável Gado Novo”), mas enquanto isso não acontece – fazemos tudo o que nos mandam: levantem as mãozinhas e deem aquela reboladinha, mas só serve se for até o chão, chão, chão, chão... 

Não se pode negar que o que é arte, é quase sempre determinado pelas classes mais abastadas; porém, há arte, artistas e os que disso gostam, no ceio das classes menos favorecidas. O problema reside nos ouvidos, nas mentes e nos olhos que não foram educados para apreender.  A arte enquanto essência não é propriedade e ninguém; suas representações, talvez. A arte e o autentico artista, possuem um mundo paralelo! Um lugar sem igual.  Nesse universo ideal, só a essência das coisas fazem morada! Lá, tudo é idêntico a si mesmo! O belo, assim como as outras coisas que lá existem, não se corrompem, não têm falta de coisa alguma. É desse universo que surgem às composições de Dona Ivone Lara. Mesmo as almas não residentes, aqueles só visitam esse espaço idílico algumas vezes na vida, se tomarem os cuidados necessários com as águas do Rio do Esquecimento, certamente se deliciarão com as belas e atemporais composições da primeira e única dama do samba brasileiro: Dona Ivone Lara. Cacau “:¬) 

"Ela é a síntese do samba. Tem o ritmo dos tambores do jongo e a riqueza melódica e harmônica do choro. Em seu canto intuitivo está um pouco da África e do negro americano”. Túlio Feliciano, diretor do show realizado por D. Ivone Lara no Canecão, em depoimento ao jornal O Globo.

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