sábado, 28 de maio de 2011

CALCANHAR de AQUILES

Por: Claudio Fernando Ramos
Retornei, voltei a freqüentar o Buraco da Catita localizado na Ribeira, antigo centro da cidade do Natal. Esse retorno tem sido muito prazeroso, conheço esse espaço desde sua fundação. Porém não foi para falar sobre esse excepcional espaço cultural da cidade, se bem que ele por si só, merece linhas e linhas dos mais entusiasmado elogios, mas para tratar de um velho e malhado assunto: o samba.
Afinal, qual é o calcanhar de Aquiles do samba (nesse caso em especial ao falarmos sobre o samba, mesmo cônscio de suas singularidades, estaremos falando também sobre o pagode) em Natal? Desconfio que essa não seja uma pergunta tão simples de ser respondida. A dificuldade não reside no fato da resposta ter um teor acentuado de complexidade, e que por isso careceria de estudos e pesquisas profundas, nada disso. A ausência da simplicidade localiza-se na pluralidade, ou seja, são tantos os motivos e razões que não sabe-se como começar.
Abordarei um, dentre os vários existentes. Quem faz samba/pagode deveria, a rigor, gostar de samba/pagode. Em princípio, todos que lerem esse artigo ficarão desconfiados, mas ao fim creio que prevalecerá o bom senso. Um bom espaço para música, principalmente músicas com forte apelo étnico, como é o caso das músicas de grupos afro-descendentes, é aquele em que se possa ter contato, situação propícia para interagir,  manifestar carisma, ser espontâneo. Alguns organizadores do samba/pagode parecem desconhecer ou ignorar alguns princípios básicos do mundo dos negócios. Em espaços quase insalubres o que nos tem sido oferecido é o mínimo.
Os “empresários” desses espaços ficam envolto em ações administrativas (contando dinheiro, vendendo fichas, etc) e esquecem que seu maior patrimônio reside na satisfação de seus clientes (falar com eles, ouvi-los, sentir, na medida do possível, o que eles sentem).
 Mau atendimento (por incompetência, apatia (talvez) e, às vezes, por questões absurdas como ciúmes do cônjuge). Não separa-se, adequadamente, o pessoal do profissional (isso inclui também o uso indiscriminado de alucinógenos). Se a administração é tão importante, e de fato é, por que situações como: som ruim (qualidade do que se ouve e altura em que se ouve) e banheiros (horríveis tanto no jeito quanto na forma, principalmente para as mulheres) não melhoram? Não foram poucas às vezes em que tive que dividir esse espaço intimo com pessoas drogando-se, sem contar que não se pode lavar as mãos depois de qualquer ação.
O preço da cerveja vem sofrendo majorações na maioria dos espaços dedicados ao samba/pagode. Está cara? Nem tanto. Porém não é justo que ao cliente/consumidor, que parece significar coisa alguma,  não seja dada oportunidade de escolha de marca e, por conseguinte, de preço. Se no início paga-se R$ 3,00 por uma cerveja do tipo “A”, no final paga-se o mesmo valor por uma cerveja do tipo “B”, em razão da primeira ter acabado.
Quando haverá progresso de ideias e de ações para esses que fazem o samba/pagode em nossa cidade? Querer ganhar dinheiro, todos queremos, mas é preciso ter algumas outras coisas além da “ganância”.
Lendo a obra de Franco Cambi (A História da Pedagogia) aprendi que, na condição de professor, ensinar é, também, aprender. O Buraco da Catita não é paradigma de satisfação plena, mas sem nenhuma sombra de dúvida tem feito escola nessa cidade. E, se hoje eles podem ensinar como se faz com: humildade, qualidade, quantidade e competência, é porque nunca declinaram da alvissareira condição de eternos alunos.  
 Na obra de Homero, Ilíada, o Mito Grego narra que a morte de Aquiles, campeão dos gregos na luta contra os troianos, deu-se por um pequeno ponto de vulnerabilidade em sua armadura, o calcanhar. O samba clama por uma blindagem em Natal, uma nova armadura sem calcanhares letais.
Cacau, Natal-RN 28/05/2011

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